Você já participou de um processo seletivo e recebeu um feedback bem bacana, daqueles que sentimos orgulho de ter participado mesmo que não tenhamos passado? Se sim, saiba que você é uma exceção. Infelizmente a maior parte das empresas ainda não dão feedbacks ideais, principalmente quando os candidatos não passam.
Nesses casos de negativas, muitas vezes as pessoas responsáveis pelo processo sequer dão um retorno. Esse artigo serve tanto para as pessoas que trabalham com RH, quanto para as que são, foram e serão candidatos à vagas nas mais distintas empresas.
Tenho 25 anos de idade, de carreira são mais de 7. Nesse tempo, tive oportunidade de participar de inúmeros processos seletivos, em empresas das mais diversas áreas. Claro que as vezes que passei – que foram 14 – sempre recebi feedbacks das empresas, alguns animados, outros mais tímidos. Só que o foco aqui são os processos em que não passei. Os processos em que todos nós não passamos.
Não ser contratado, não passar em uma etapa de determinado processo seletivo pode ser traumatizante. Mas também pode nos dar mais experiência para que tenhamos um melhor resultado em uma próxima oportunidade. A negativa de uma empresa pode vir por diversos fatores: Não estar bem preparado para a entrevista, não dominar determinadas habilidades que são necessárias para a função, ansiedade, comportamentos inadequados, entre outras possibilidades.
Feedback quando você já trabalha na empresa
Sempre defendi os feedbacks, seja dentro da empresa na qual trabalho, seja como candidato a determinada vaga. Esse retorno, quando bem feito e recebido de maneira positiva, pode fazer grande diferença nas atitudes profissionais que teremos dali para frente. E se você é a pessoa que dá o feedback, esse retorno poderá acontecer dentro da sua equipe. Um que recebi de uma gestora com a qual trabalhei mais ou menos dois anos atrás: Ela sentou comigo em uma sala e começou a falar sobre diversos aspectos, eu fui avaliado por cinco lojas diferentes e os resultados foram muito positivos. Depois de me passar a avaliação das lojas, ela olhou para mim e disse que me admirava, tanto como pessoa quanto como profissional e que gostaria que a filha dela, que ainda é uma criança, fosse uma pessoa tão boa e iluminada quanto eu. É possível ter noção do quanto essas palavras são fortes e de como ela mudou minha vida em poucos minutos de conversa? Sempre fiz o melhor trabalho que consegui nos locais em que trabalhei. Mas essa reunião que tivemos e as palavras que ela me disse foram tão sinceras que me fizeram chorar, na frente dela. E não tenho vergonha alguma disso, sou uma pessoa bem emotiva inclusive, as pessoas que trabalham e já trabalharam comigo sabem bem disso, mas isso é assunto que rende um outro artigo à parte. Passado um tempo e ainda dentro desta mesma empresa da qual recebi o feedback dessa gestora, me tornei supervisor e estava em um cargo de gestão, tinha uma equipe. E quem era minha referência? Ela mesmo, a gestora que me deu um dos melhores, senão o melhor, feedback que já recebi até hoje. E só não coloco o nome dela aqui porque não tenho a permissão, mas se ler essa postagem, sei que saberá que estou falando dela. É uma experiência bastante pessoal que achei importante trazer aqui.
No mundo dos negócios, no mundo corporativo, no mundo profissional, de uma maneira geral, vejo muita gente com medo de demonstrar sentimentos, de se mostrar humano. Talvez isso aconteça por receio de que quando você se mostra humano, você expõe suas fraquezas. Isso pode mesmo acontecer, só que não significa que seja ruim, não quer dizer que você é menos por isso. Uma reunião de feedback, na minha visão, é o melhor momento para mostrar o melhor da sua parte humana, seja como gestor ou como colaborador da equipe, dando ou recebendo o feedback. E assim como esse exemplo tão positivo, vou dar um exemplo que vivenciei completamente oposto, de uma pessoa que na minha visão leiga, jamais deveria fazer algo do tipo. Eu fui intimado a me calar por ser uma pessoa que dava muitas ideias. O diretor de operações de uma das maiores empresas do Brasil, na qual tive que trabalhar junto porque a empresa em que eu era colaborador foi comprada por essa maior, me deu um “cala a boca”. Ele me chamou na mesa dele, junto com dois dos meus novos gestores. Eu estava trabalhando com eles fazia menos de dois meses, e eu era a pessoa com maior experiência naquela mesa no quesito do qual nós ali operávamos, intercâmbio. Ele falou em alto tom, para me intimidar, que eu tinha que parar de opinar, que a empresa que eu conhecia não era mais a mesma e que eu deveria me contentar em fazer o meu trabalho, que era operar. Disse que era para eu deixar que ele e os gestores cuidassem da gestão e que eu deveria parar de enviar e-mails pontuando o que poderia ser melhorado. Ele tinha agressividade na voz. Os gestores nada falaram, se calaram. Fui até o banheiro e chorei. Liguei para o RH da empresa que na época se localizava em outro bairro de São Paulo, distante. Avisei a responsável do RH o que tinha acontecido e falei que iria até lá para me demitir. Péssimo feedback, não? Naquele dia me despedi apenas da equipe na qual eu trabalhava, não olhei mais nem para o diretor, nem para os gestores que concordavam com a maneira que ele trabalhava. Fui até o local do RH e quiseram saber todos os detalhes, tanto o recursos humanos, quanto uma gestora e uma diretora que já haviam trabalhado comigo. Depois de dois anos e meio de empresa, eu saí em razão de um feedback escroto de uma pessoa que não respeita outras pessoas, que acha que pode tratá-las como robôs, e isso é algo que não se encaixa ao meu perfil, aos meus ideais. Compartilhando com vocês os resultados de uma pessoa que não sabe dar feedback: A minha demissão foi uma dessas consequências, que inclusive acabou mudando minha vida para melhor. Além disso, soube que dois meses após a minha saída, a empresa decidiu tirar das mãos tanto dos gestores quanto desse diretor a parte operacional da empresa. Por não estarem conseguindo bons resultados e devolveram a equipe às antigas gestoras, que continuam com a operação até o momento em que escrevo esse artigo. (Não nego que me sinto feliz por isso).
Esse feedback me fez muito mal. Foi difícil pedir demissão e abrir mão de tudo que havia conquistado lá dentro, mas necessário para seguir em frente. Sei que a maior parte das pessoas não teria condições de pedir demissão assim, principalmente por fatores financeiros. Imagine se fosse com você e tivesse que continuar lá até conseguir um emprego melhor… Me coloco muito nessa situação, pratico a empatia sempre que posso. Imagino que realmente seria uma situação insustentável. Por isso é importante que os gestores das empresas saibam realizar o feedback, seja ele positivo ou negativo, de uma maneira educada, respeitosa e que agregue.
Feedback quando você não trabalha na empresa – processo seletivo
Focando nos processos seletivos, não consigo mensurar quantos são os amigos que ficam esperando eternamente por um feedback com o resultado e a resposta nunca chega. Você já passou por isso? Deixa sua experiência nos comentários para conversarmos sobre o assunto! Esse é com certeza um dos pontos fracos da maioria das empresas. Não posso dizer se no mundo todo, mas no Brasil com certeza. Já participei de alguns processos em que nunca recebi um retorno. E querendo as empresas ou não, isso mancha a imagem delas também.
Elas ficam marcadas pela falta de retorno, que pode ocorrer por falta de organização da pessoa responsável. Ou receio de enviar um e-mail com uma negativa, entre outras situações. Apesar da maioria das experiências que temos conhecimento e vivencia nesse quesito ainda não serem das melhores. Vou contar aqui sobre a experiência que tive essa semana e que me motivou a escrever esse artigo.
Participei da concorrência para uma vaga na área de Marketing e honestamente é uma área que ainda tenho que melhorar bastante minhas habilidades e conhecimentos. Mesmo assim por ter algumas atribuições ligadas ao jornalismo e comunicação, minha área de formação, apliquei. Tive um retorno no dia seguinte dizendo que eles tinham gostado das minhas respostas iniciais, e me convidaram para participar da segunda fase. Passaram duas atividades que eu deveria realizar e enviar para a empresa em até 48 horas. Ambas ligadas à produção de texto e marketing. Fiquei uma madrugada fazendo, com prazer, as atividades ali solicitadas. Foram mais de 4 horas para produzir o resultado final. Enviei então o PDF para eles e expliquei no corpo do e-mail os detalhes. O retorno veio dois dias depois, e foi o melhor feedback com negativa que já recebi até hoje, compartilho com vocês uma parte do e-mail. Oi, Vítor! Tudo bom? Antes de qualquer coisa, quero te agradecer pelo interesse em integrar a nossa equipe e pela dedicação e tempo investidos na sua candidatura. Estou entrando em contato contigo para te dar um feedback acerca do teste que você nos enviou e da sua continuidade no processo seletivo. Depois de avaliar o artigo e os emails que você redigiu, entendemos que, neste momento, a entrega não se alinha inteiramente às nossas expectativas em relação à vaga de Analista de Inbound Marketing Jr. Por conta disso, não vamos seguir com a sua inscrição nas próximas etapas do processo. Eu sei que a notícia que eu estou te trazendo é bem chata. Ainda assim, espero que o desafio possa, de alguma forma, contribuir para o teu desenvolvimento profissional. Por isso, gostaria de destacar alguns pontos de atenção que acredito que você possa se atentar em outras oportunidades: Ele então colocou em 4 tópicos os pontos que notou e que, na visão dele, eu poderia melhorar para processos futuros. Um dos tópicos que ele pontuou estou inclusive utilizando nesse texto para deixá-lo com uma melhor qualidade. O e-mail foi de uma delicadeza sem igual, não foi agressivo, demonstrou que ele realmente leu absolutamente tudo que escrevi nas atividades e mesmo eu não sendo contratado, fiquei muito feliz, inclusive contei para minha irmã que não passei, mas que estava feliz de ter recebido esse e-mail. E decidi escrever esse artigo por causa da resposta do Douglas, que nem conheço pessoalmente, mas admiro muito pela atitude tomada de maneira tão cuidadosa. Ele ainda finalizou o e-mail com a seguinte mensagem: Espero, de verdade , que esse feedback possa ser útil! Te desejo sucesso e, de qualquer forma, fica de olha nas nossas vagas. Sempre tem coisa legal surgindo! Abraço, Douglas Me diz se não temos muito mais vontade de trabalhar com o Douglas do que com aquele diretor cheio de marra que não tem respeito pelas pessoas? A minha opinião vocês já podem imaginar!
Para finalizar com chave de ouro, vou contar de uma experiência que tive no começo da carreira, quando ainda tinha 18 anos. Fiz uma entrevista em uma empresa e não tinha a menor ideia se teria um bom resultado, foi uma das primeiras que realizei na vida. Uns dias após a entrevista o gestor da vaga me ligou para dar um feedback sobre a nossa conversa. Disse que tinha gostado muito do que conversamos, mas que honestamente precisava de alguém com mais experiência, alguém que já tivesse conhecimentos na área na qual eles trabalhavam. Ele finalizou perguntando se poderia me indicar para uma multinacional que ele sabia que estava contratando, porque acreditava que eu me encaixaria bem lá. Eu disse que sim e agradeci muito, tanto o feedback quanto a indicação. Essa ligação mudou o início da minha carreira e a indicação do Alexandre (sim, eu lembro o nome dele, mesmo tendo se passado 7 anos do acontecido) me ajudou a conseguir o segundo emprego da minha vida. Sou grato a ele até hoje por isso. Trouxe essas experiências, a maioria delas bastante pessoal, para mostrar que temos sim exemplos ruins por aí. Que tem sim muita empresa que ainda precisa melhorar muito, assim como pessoas que precisam evoluir e se atualizar, perceber que não se trata outras pessoas de maneira diferente, independente do cargo. Mas mais do que isso, existem pessoas muito incríveis no mercado, que temos vontade de trabalhar junto, que queremos estar próximos. E são essas as pessoas que eu quero ter sempre por perto. Faça pelas pessoas o que você gostaria que fizessem por você.
Publicado originalmente no LinkedIn.
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