Assunto azedo para alguns, a política nos últimos anos foi deixada de lado, para que discutíssemos os políticos e suas visões, sejam de esquerda, direita ou centro. Mas será que tudo o que aconteceu no Brasil e regionalmente nos estados e cidades, não é uma amostra de que dessa forma não está dando certo?
Noto meus amigos, e em alguns momentos eu mesmo, debatendo e defendendo seus candidatos, ou até partidos que mais agradam. Porém, se pararmos um pouco para pensar, e tentarmos sair da onda, notamos que os pontos que têm que ser discutidos não são apenas as pessoas e seus partidos, mas sim quais são as reais expectativas que acreditamos para determinadas mudanças. Mas como assim, Vítor?
O que o país precisa para melhorar a qualidade de vida das pessoas, de um modo geral, é pensar no macro – literalmente pensar em conjunto. Porque pensar no coletivo quando você pensa profissionalmente é fácil, mas e quando você pensa nas pessoas como um todo? Será que o sentimento muda? Provavelmente sim. Somos treinados desde sempre a sermos seres individualistas, em que apenas a nossa bolha vale a pena. É muito difícil sair da bolha social em que vivemos, mas quando conseguimos, nosso horizonte se amplia de tal forma que chega a ser surpreendente.
E a educação? Pensar em colocar os filhos na escola particular como solução não é uma real solução. E aqui te escreve uma pessoa que estudou em escola particular, em escola da prefeitura, em escola do estado, e em uma escola pública no exterior. Passei por essas quatro realidades, que garanto, são completamente diferentes. Não vejo como solução dos problemas de uma sociedade que tem enfrentado inúmeros problemas colocarmos nossas crianças e adolescentes apenas na escola particular e está tudo certo.
Acredito que uma solução real é o governo (em todas as esferas: federal, estadual e municipal) disponibilizar assistência à educação em todos os âmbitos, com prédios de qualidade, profissionais bem preparados, que saibam lecionar e ajudem a educar as pessoas que são o futuro do nosso país. Muitas pessoas dizem que é impossível e, na nossa realidade atual é, porque estamos colocando as pessoas erradas no poder. E quando digo pessoas erradas, é independente de vertente política ou partido, são raros os casos de pessoas que vemos defendendo os reais interesses da sociedade, ou da maior parte dela.
Além disso, vamos abordar aqui a segurança, o que também passa pelos presídios e a visão de aumento da violência que temos com o passar dos anos. Você sabia que o Brasil nunca teve tantos presos e que o número segue crescendo? E se temos tantas pessoas presas, por que a violência só aumenta? O fato é que o Brasil é um país violento há muito tempo, por inúmeros fatores, só que, enquanto segurança pública, sistema prisional, educação e oportunidades reais não forem tratadas como questões políticas com seriedade, nós, brasileiros, não conseguiremos reverter a situação do nosso país.
– Educação:
A educação não é para todos no Brasil. Quando as crianças e adolescentes não estão na escola e o governo não procura colocá-los de volta, as consequências podem vir a ser terríveis. Trago como fonte dados do jornal A Folha de São Paulo, publicados em Janeiro de 2018, você pode ver a matéria clicando aqui.
A reportagem é bastante completa e fala da educação como um todo, mirando principalmente o ensino médio. Dou destaque a esse trecho:
Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação diz: “Os governos consideram que incluir esses jovens é um problema, porque a inclusão tende a reduzir o desempenho nas avaliações de larga escala. Quando eles entram no sistema, chegam com déficit”.
Por inúmeras razões, os estudantes abandonaram a escola, seja no ensino fundamental ou no médio. O fato é que são mais de um milhão e meio de crianças e adolescentes fora da escola. É como se quase metade da população do Uruguai estivesse sem acesso à educação. É papel de um governo, independente da esfera, trabalhar para que essas pessoas estejam estudando. Sabemos que as razões de terem saído podem ser diversas, desde uma família desestruturada, até uma escola sem estrutura para que o aluno fique por lá de maneira digna.
A mesma reportagem traz dados alarmantes sobre a situação estrutural das escolas. Em torno de 6% das escolas estaduais não têm nem sistema de esgoto. Ainda, mais de 50% não tem laboratório de informática, e em torno de 46% não tem sequer biblioteca ou sala de leitura. Além disso, mais de 30% dos professores que atuam na educação infantil não tem diploma de ensino superior, no ensino fundamental são 14,5% e no médio em torno de 6,5%.
Esses são os dados, com a fonte devidamente citada no link. Não sei se defino isso como triste ou assustador para a realidade do ano em que estamos. Qual sua opinião sobre? Comente e vamos ao próximo tópico.
– Oportunidades reais:
Esse é um assunto que conversa bem com a nossa realidade dentro do LinkedIn. Como podemos falar de oportunidades em um país que tem estado em falta com isso? Quantas pessoas você conhece que estão desempregadas, ou que não conseguem se recolocar no mercado de trabalho por inúmeras circunstâncias, desde empresas que querem pagar pouco para quem tem MBA, até organizações que exigem para um cargo simples e técnico que o profissional tenha dezenas de qualificações e experiências para pagar R$900,00? Quais são as perspectivas que as pessoas têm ao se deparar com essa realidade? Aliás, outra pergunta que sempre me faço é: você conseguiria sustentar sua família com um salário mínimo? Porque eu, honestamente, não sei se conseguiria me sustentar sozinho, quanto mais uma família. E note que não desmereço jamais quem consegue, mas, na minha visão, viver com um salário mínimo não é viver, é sobreviver.
Se juntarmos pessoas desempregadas com as pessoas que gostariam de trabalhar mais e as pessoas que desistiram de procurar emprego, a soma é maior do que 27 milhões de brasileiros. Se contarmos apenas os desempregados, que procuram emprego e não acham, são mais de 13 milhões (mais do que a população inteira da Bélgica). Você pode conferir esses dados na reportagem da Folha de São Paulo, clicando aqui. Enquanto não tivermos oportunidades reais para as mais diversas pessoas, e para as mais distintas realidades, não conseguiremos fazer o país voltar a crescer de maneira real.
– Segurança Pública:
Avenida Paulista, são quase meia-noite de uma quinta-feira. Estou voltando para casa e conversando com meus amigos e minha irmã pelo WhatsApp, distraído, enviando áudio e falando algo que honestamente não me lembro. Um garoto com uns 16 anos passa de bicicleta e arranca o celular da minha mão. Minha reação é rápida e corro atrás. Ele está à toda velocidade, mesmo assim eu corro uma quadra inteira da Paulista atrás dele (para quem não conhece a avenida, as quadras são bem grandes), porém, como ele está de bicicleta, consegue pegar distância e foge.
Quando percebo que não vou conseguir alcançá-lo, eu literalmente me jogo no chão e soco a calçada com toda minha força, raiva, angústia e cansaço. É o que me lembro de ter sentido naquele momento. Vou até o orelhão e ligo para minha irmã a cobrar, avisando que estou voltando para casa sem celular. Ninguém me ajudou na rua. Ninguém sequer parou para perguntar se estava tudo bem. Ok. Minha raiva foi grande, tinha trabalhado muito para comprar o celular. E, com 21 anos, meu salário não era alto para poder comprar outro em seguida.
A pauta segurança pública envolve sim proteger as pessoas, os cidadãos de um modo geral. Envolve que as pessoas se sintam seguras ao andar nas ruas, ao sair à noite, ao ir na padaria, shopping ou trabalhar. Mas, além de tudo isso, para que a segurança pública tenha estrutura possível dentro de um país do tamanho do Brasil, temos que ter uma política que resolva os dois primeiros pontos citados neste artigo, a educação e as oportunidades reais. Dependendo do ângulo, muita gente não enxerga como uma coisa está diretamente ligada à outra.
Se a pessoa não tem acesso a uma educação de qualidade, ela não terá o que chamo aqui de oportunidades reais. Não tendo oportunidades, ela não terá dinheiro, e quando não temos dinheiro buscamos alternativas, que podem envolver até mesmo a prostituição – área que domino bastante, uma vez que meu TCC na faculdade foi um documentário sobre prostituição masculina, e conversar com os meninos cara a cara me surpreendia em alguns momentos. Veja abaixo o que disse um garoto de programa que não se identificou com medo de retaliação da família:
“Eu me prostituo para ter dinheiro, cheguei a tentar trabalhar em diversos lugares, mas ninguém me contratava, decidi me prostituir, pelo menos assim consigo ganhar dinheiro”.
Existem também as pessoas que vão para o mundo das drogas, seja como usuário ou traficante, e então já envolvemos inúmeros crimes que podem vir como um efeito dominó. E note aqui que não defendo de maneira alguma as pessoas que cometem crimes, porém, diferente de parte da sociedade, eu pratico a empatia, não só no mercado de trabalho, mas na vida. Eu tento entender porque aquela pessoa chegou naquela situação. Assim como ninguém nasce diretor de empresa, ninguém nasce criminoso, nós nos tornamos, pelas mais variadas situações, seja para o bem ou para o mal.
Esse efeito dominó acarreta em tudo o que podemos ver nos noticiários, jornais e internet. E consequentemente exige muito mais trabalho dos profissionais envolvidos com a segurança pública. Se a política começar a trabalhar lá do início, além de termos um menor número dos casos de crise na segurança pública, será possível preparar melhor a estrutura para atender as pessoas de maneira eficiente e funcional.
Sistema Prisional:
Você sabia que a nossa população carcerária é a terceira maior do mundo? Nós nunca tivemos tantas pessoas presas como nos dias atuais. Mas, se estamos prendendo como nunca, por que cada vez mais parecemos estar menos seguros?
Por motivos de nossa política não resolver o problema, apenas tentar “apagar o incêndio”. Nosso sistema prisional está superlotado, temos mais de 700 mil pessoas presas, sendo que os presídios têm praticamente metade dessas vagas disponíveis. A fonte desses dados é o portal UOL, veja clicando aqui. Aconselho a todos que tiverem uma horinha à assistir o programa da TV Bandeirantes “A Liga”, que mostra a situação de alguns cárceres no estado da Paraíba, é possível acompanhar clicando aqui.
Poderíamos usar como base, por exemplo, os presídios do Canadá. Uso como base porque é um país que é visto pelo mundo como um exemplo de nação que funciona. Que pensa nas pessoas e é inclusive um destino muito procurado por brasileiros para imigração. Uma matéria do Canadá Agora mostra em texto e vídeo como funciona o presídio Canadense. Além de estrutura exemplar, o país trabalha com a reabilitação dos presos, para que eles voltem para a sociedade e tenham chances reais de viver com as pessoas após terem sido punidos pelos crimes cometidos. Clique aqui para ver.
Não precisa ter muito conhecimento sobre os presídios brasileiros para saber que o sistema carcerário brasileiro não reabilita os presos. Muito pelo contrário, os deixa em situação desumana, e quando eles saem, depois de anos, voltam para a criminalidade após não terem suporte humano do governo.
Eu friso aqui que acredito sim que as pessoas têm que ser punidas pelos crimes cometidos, o que não concordo e podemos refletir sobre, é como o nosso sistema prisional não funciona e que, se ele funcionasse de maneira efetiva, como poderia ecoar de maneira positiva para toda a sociedade.
Vamos colaborar? Quais são as suas visões sobre a política brasileira? Fique à vontade para citar inclusive tópicos que não coloquei aqui, como economia e sustentabilidade por exemplo. Espero ter trazido para nosso debate, aqui no LinkedIn, um assunto que agregue para todos nós! Peço para que colaborem com o debate sem enaltecer partidos e políticos específicos, mas sim visões de um Brasil melhor. Independente de quem formos votar, todos nós somos brasileiros, e com certeza queremos o melhor para nosso país, queremos pessoas que façam a diferença nas mais diversas áreas da política brasileira.
“Bons investimentos geram bons resultados”
Publicado originalmente no LinkedIn.
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